O tempo dá uma volta completa.
“Recordar é viajar no tempo mentalmente.” [Tulving]
“Relacionar o que sabemos sobre comportamento da memória às suas estruturas neurais subjacentes não é nada óbvio. É ciência de verdade.” [Tulving]
Nascido na Estônia, fugiu para a Alemanha com seu irmão durante a invasão Russa e reencontrou seus pais após a morte de Stalin 25 anos depois. Estudou psicologia no Canadá e doutorou-se em Harvard.
Por ser o elo natural entre o estado consciente e o cérebro a memória foi a ponte entre a filosofia e a psicologia, e portanto, foi o foco de retomada dos estudos psicológicos depois de décadas de behaviorismo e psicoterapia.
Tulvingrealizou descobertas inovadoras com pesquisas e métodos simples. Ao ditar palavras a alunos percebeu que na média apenas metade delas eram relembradas, contudo quando estas palavras eram contextualizadas em grupos maiores como por exemplo tipo de animal ou cor, conseguia-se aumentar a capacidade de acerto do grupo satisfatoriamente.
Concluiu que as pessoas tendem a classificar informações recebidas de modo à facilitar resgatá-las, portanto o acesso a informações inacessíveis da memória dependiam apenas de se instigar o indivíduo com as perguntas ou dicas apropriadas.
Ao relacionar o armazenamento e a recuperação de informações na memória percebeu que não existe apenas uma memória de curto ou longo prazo, mas sim uma de longo prazo responsável por guardar conhecimento ou fatos e dados, e outra para armazenamento de experiências ou eventos e conversas.
Classificou-as respectivamente de memória semântica e episódica. Enquanto a semânticaorganizava e classificava informações, a episódica relacionava-as ao contexto onde foram presenciadas. A memória semântica era única dos seres humanos, nos permitindo viajar no tempo. Ao contrário do que se acreditava na época, afirmou que informações não eram perdidas, apenas tornavam-se inacessíveis sendo sempre possível resgatá-las.
As publicações de seus estudos coincidiram com o avanço da neurociência e sua capacidade de mostrar mapas de atividades cerebrais onde foi possível mostrar que as memórias episódicas estão relacionadas ao lobo temporal medial e ao hipocampo.
Devido a informalidade na apresentação de seus conceitos, Tulving foi mais um grande influenciador que pesquisador e suas ideias abriram o caminho para diversos estudos aprofundados por outros psicólogos, levando-os a descobrir outras áreas da memória como a memória processual, explícitae implícita; que ainda nutrem grande interesse da psicologia moderna.
Desconheço qualquer teoria sobre o assunto, contudo tenho a convicção de que existe uma diferenciação clara de como o cérebro processa informações racionais e emotivas; cada qual com um meio próprio de trazer lembranças e informações ao consciente.
Tulvingnão inovou ao pregar a aptidão do Homemno agrupamento de informações, pois esta teoria é tão antiga quanto a filosofia grega. Contudo mostrar meios capazes de estimular o resgate destas foi uma visão inovadora. Intrigante também o fato de que não aprendemos técnicas de memorização e resgate de informações nas escolas nem em universidades, trata-se de um desperdício de conhecimento num mundo onde o resgate multidisciplinar de informações tem se mostrado o principal motor de avanço e inovação.